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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Brazil's fall: e feliz ano novo!

A revista The Economist publicou reportagem de capa sob o título "Brazil's fall", com previsões catastróficas para o Brasil. Lá eles falam da crise política e econômica, da burocracia, da corrupção, do impeachment.

Bom, fui ler os comentários e achei o seguinte:

"
guest-nwnloii
I am British, (...) The problem with Brazil is the Brazilian people."

A frase final é impagável. "O problema do Brasil é o povo brasileiro". Taí então a solução genial deste simpático senhor: vamos retirar todo o povo brasileiro daqui e trazer pra cá outro povo, quem sabe o britânico. Aí, na falta de uma áfrica e de uma Índia para espoliar, talvez se possa encontrar um outro lugar de onde se roubar ouro, por exemplo, e tornar-se uma grande potência.

sábado, 5 de dezembro de 2015

O Gato de Botas - Um Gangster Peludo

O conto "O Gato de Botas", de Charles Perrault, conta a história de um gato comum que se tornou um notável mafioso.

Tudo começa quando o gato descobre que seu dono, falido, sem ter o que comer, cogita em comer o próprio gato. Logo o gato bola um mirabolante plano e de imediato o põe em ação.

"Dê-me um saco e me calce um par de botas", disse o gato ao seu dono, prometendo resolver todos os seus problemas.

Como se trata de um conto, os animais são personificados e por tanto mostram sentimentos e comportamentos humanos. A primeira atitude do gato foi coletar algumas ervas muito atraentes para coelhos. Depois, foi para um local onde os coelhos costumavam frequentar e deixou o saco semiaberto para que o cheiro das ervas atraísse os coelhos. Ficou perto do saco fingindo-se de morto. Uma jovem e inexperiente coelha, acreditando que o gato estivesse morto, entrou no saco para comer as irresistíveis ervas. Assim que a coelha entrou, o gato saltou sobre ela e a matou.

O Gato de Botas, então, levou a coelha como presente de seu amo, um tal de "Marquês de Carabas", para o rei. Claro que nunca existiu até aquele momento um tal senhor, muito menos o presente havia sido mandado de fato para o rei. Tratava-se de pura falácia e bajulação com um fim bem determinado pelo gato.

Depois de alguns dias sendo bajulado, o rei já sentia alguma estima pelo gato e pelo seu senhor, o tal "Marquês de Carabas", inventado pelo gato. Avisou então o rei ao gato que iria passear pela margem do rio do reino na manhã seguinte. Era a oportunidade que o Gato de Botas precisava para dar sua cartada final.

"Você precisa entrar no rio e fazer exatamente o que eu disser", avisou ao seu dono. No dia seguinte, o gato e seu dono foram para o rio e fizeram como combinado. Quando o rei se aproximou, o gato começou a gritar "socorro! socorro! o senhor marquês de Carabas está se afogando!". O rei reconheceu o gato na hora e recordou o senhor que tantos presentes de caça o enviou. Ordenou então aos seus guardas para que o salvassem. "Os ladrões levaram as roupas do senhor Marquês de Carabas", disse ao rei o gato. O rei mandou que lhe fossem dadas roupas adequadas. Generoso e grato pelos supostos presentes, o rei convidou o dono do gato para subir na carruagem e seguir com eles em passeio pelo reino.

O Gato de Botas corre a frente da carruagem e comete mais uma maldade: "se vocês  não disserem que essas terras são do senhor Marquês de Carabas, vocês serão todos mortos!", ameaça ele os pobres camponeses que lavravam a terra.

De propriedade em propriedade, o rei perguntava de quem eram aquelas terras e seus camponeses diziam: "pertence ao senhor Marquês de Carabas", obviamente e justificadamente com medo da ameaça do gato.

Mas, o pior ainda estava por vir.

Você sabia que muitas coisas ruins já aconteceram a muita gente por causa da vaidade. A vaidade conduz a muitos perigos. Por vaidade, muitas pessoas perderam tudo o que tinham: família, amizade, dinheiro, saúde, e até a vida.

Um ogro que vivia no reino, e que era muito rico (ele era o verdadeiro dono das terras que o gato fez crer ao rei serem do "marquês de Carabas"), sofria de vaidade. O gato sabia disso e resolveu apostar suas últimas fichas na vaidade do ogro. Primeiro diz ao ogro que não poderia passar pelo seu castelo sem cumprimentar-lhe e prestar-lhe honras, pois ouvira falar que o mesmo tinha grandes e admiráveis poderes.

"Dizem que você pode se transformar em qualquer animal, um leão, um elefante!", interpela o gato. "É verdade!", confirma o ogro. E para provar que era verdade, ele se transformou em um leão, bem diante dos olhos do gato. O gato se mostra assustado, mas é claro que era puro fingimento.

"Dizem ainda, que você só não pode se transformar mesmo em pequenos animais, por exemplo, um rato ou um camundongo para você é impossível", diz o gato com um tom desinteressado. O ogro então, tomado pela vaidade, retruca: "impossível?! pois vou te mostrar!".

Assim que o ogro tomou a forma de um camundongo, o gato atirou-se sobre ele e o matou.

Depois o gato se dirige para a porta do castelo e recepciona o rei dizendo: "bem-vindo ao castelo do senhor Marquês de Carabas!".

O rei, acreditando em todas essas mentiras, dá a mão de sua filha ao dono do gato.

O Gato de Botas se torna um reconhecido senhor no reino e passa a caçar e matar coelhos apenas por diversão.

Esse conto vem sendo lido e representado em filmes, peças teatrais, etc, de geração a geração, mostrando o gato como alguém genial, obrigando-nos a reconhecer que os perversos, quando atingem o sucesso, são tratados como heróis.


sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O Diploma e O Conhecimento

Às vezes encontro pessoas que se mostram ansiosas para entrar em um curso superior. Essas pessoas se submetem a provas, preenchem longos formulários, compram material para as aulas e depois... depois esquecem-se completamente do sentido que deveria ter estudar.

O estudo, na sociedade capitalista, deixou de ser uma forma de aquisição de habilidades para desempenhar uma atividade para tornar-se uma mercadoria.

O problema é que, quando algo tem o único status de mercadoria, ela passa a ser medida por um preço e não pelo seu valor. O preço é que vai dizer quanto esforço o sujeito deve fazer para alcançar determinado objetivo. Quando se associa um preço a alguma atividade, põe-se de lado o seu valor, e passa-se a ponderar somente o aspecto custo-benefício.

E por que isso seria tão grave em educação, especialmente em educação superior? Porque as pessoas passam a fazer o menor esforço possível para obter o que querem. E se o que querem é apenas um diploma, o esforço será o suficiente para obter uma nota, seja por que meio for. Então, esquece-se de buscar o devido desenvolvimento para desempenhar com excelência uma atividade.

As consequências podem ser diversas. Mas, talvez a mais grave seja a total e irresponsável alienação do conhecimento. Muitas pessoas acreditam que os computadores irão resolver todos os seus problemas e que por isso não precisam compreender quase nada de quase tudo. Vêm matérias de forma superficial e acham que precisam entender apenas e somente uma única especialidade e passam a desprezar quaisquer outros conhecimentos, mal sabendo que o conhecimento múltiplo e diverso é justamente o fator de diferenciação entre profissionais excelentes e profissionais apenas diplomados.

A alienação do conhecimento a uma máquina, a outras pessoas, a projetos copiados da internet esperando apenas uma assinatura de um diplomado pode ser especialmente perigosa para o destinatário do bem ou serviço. Obras civis, máquinas diversas, veículos, drogas medicinais, equipamentos esportivos, alimentos, vestuário, tudo que se materializa em bens requer uma gama larga de conhecimentos que são conectados para atingir seu objetivo. Declarações de imposto de renda, consultas médicas, aplicação de injeções, aulas, segurança, qualquer serviço também precisa de uma série de conhecimentos que se juntam para gerar os devidos efeitos.

Um exemplo claro de que a educação é precificada se dá quando alguém escolhe algo que simpatiza, em vez de algo que ame como profissão, porque a primeira "dá mais dinheiro". Pior é quando o sujeito não tem a menor afinidade com o que está tentando se tornar. Porque além de um profissional não muito confiável, podemos ter alguém bastante infeliz.

Tratar a educação como uma mercadoria faz com que muitos a encarem tão somente como um mal necessário. O real valor que a educação deveria ter, o status de bem intangível ao qual não se pode precificar, a busca por uma excelência no desempenho de uma atividade, isso tudo foi posto em uma gaveta escura repleta de mofo e de traças.

sábado, 24 de outubro de 2015

A Casa de Henriques

Faz alguns dias, fiquei sabendo de coisas cabulosas que ocorrem na Casa de Henriques, com o "s" no fim mesmo... Isso mesmo! Com o "s" no fim.

Lá quem manda é o Henriques, e ai de quem disso duvidar, porque o homem é versado em direito e pode meter um processo virulento contra quem dele discordar. Há quem diga que o Henriques somente estudou as leis para entender o funcionamento do sistema jurídico e dele tirar proveito da forma mais sombria e degenerada possível.

O dono da casa é soberano. A casa está funcionando meio que em uma monarquia, daquelas em que o rei reina, mas não governa. No caso da Casa de Henriques, quem governa é o Henriques, mas, sem parlamento, porque até esse tem medo do Henriques.

É que na Casa de Henriques, os súditos são tratados por ele como ralé, daquela ralé feita de animais que servem como alvo de aves de rapina.

No entanto, o Henriques, apesar das conotações absolutistas a ale atribuídas, de nobre nada tem. Dizem até que fez gestos obscenos para uma súdita, assim, do nada. Viu a pessoa, identificou-a como pertencente a ralé e apontou o dedo médio para cima. E ainda por cima, diz-se por aí, que já o ouviram usar palavras de baixo calão. Que desgosto!

Se Henriques é louco mesmo, desvairado, não podemos diagnosticar. Há súditos creditáveis que andam afirmando ser ele apenas perverso mesmo, daqueles sujeitos que se regozijam com a desgraça alheia, mais ainda se essa desgraça for causada por ele próprio. Segundo esses súditos, Henriques já foi visto comemorando inclusive doença de outrem, veja o nível!

Enquanto isso, na Casa de Henriques, os súditos vão se descabelando, fio por fio, em meio a tantos absurdos do dono da casa mais absurdo que aquela casa já teve.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Se Essa Rua Fosse (somente) Minha

Barulho de motores e buzinas escorrendo pelas orelhas. Cores, reflexos, vultos, pessoas, árvores atravessando a retina. A rua do colégio é sempre muito movimentada na hora de entrada e de saída de alunos. É só um minutinho. Afinal, todos param em fila dupla, principalmente se forem pegar seus filhos na porta do colégio. É perigoso estacionar em local adequado e ir a pé até a porta do colégio. Pode haver um assalto, ou talvez até um sequestro, ou pior ainda: os coleguinhas do filho podem pensar que o pai dele não tem carro e isso sim seria uma tragédia. Então um minutinho parado em fila dupla não faz mal a ninguém.

O que provoca um acidente, em geral é a atitude displicente de uma ou mais pessoas em conjunto com o acaso. Mas o que fica bem claro é que muitos acidentes poderiam ser evitados se não fosse a atitude relapsa de alguém. Os acidentes não são obra do destino, são obra das pessoas. Quando uma pessoa decide andar acima do limite de velocidade estabelecido em uma via, ela assume o risco de provocar um acidente. Mas em geral ela se acha experta demais no volante e por isso seria capaz de evitar qualquer acidente. O que ela não espera é outro indivíduo, tão inconsequente como essa pessoa irá também cometer um ato de imprudência ou de imperícia. Em vias preferenciais de sentido duplo, se alguém vem em alta velocidade dará pouca chance para que o que tenta entrar nessa via o faça de forma segura. A quantidade de segundos que o indivíduo leva para conferir um lado da via e depois o outro pode ser insuficiente para entrar na via antes que entre no seu campo visual quem vem em alta velocidade. Daí quem provocou o acidente? Quem entrou da via secundária para a preferencial ou quem vinha em excesso de velocidade?

Parece comum nas cidades brasileiras em que já estive a ultrapassagem em cruzamentos e em faixas de pedestres. Esse tipo de ultrapassagem é de alto risco, porque é mínima a visibilidade para quem ultrapassa e para quem está na faixa oposta ao veículo ultrapassado. Os acidentes resultantes dessas ultrapassagens são colisões frontais, laterais ou atropelamentos.

Na cidade de Fortaleza, é bastante comum a passagem para cadeirante ser usada por motos e bicicletas. Isso tem pelo menos dois resultados indesejados: o peso das motos pode danificar a passagem que deveria ser apenas para cadeirantes; e um acidente, causado pela entrada repentina de um veículo em um ponto da via em que os projetistas consideraram que não deveria haver.

Outra atitude feita sem nenhum pudor é o uso da calçada para estacionar e até mesmo para transitar. Quando digo sem nenhum pudor, quero dizer que as pessoas que fazem isso não têm mesmo nenhum vestígio de pejo pelo que fazem. Julgam aquilo como normal. Mas há uma diferença clara entre o que é normal e o que é comum. Infringir a lei e não ter nem mesmo bom senso para agir não é normal, embora possa parecer comum no trânsito.

A verdade é que o egoísmo e o egocentrismo leva o indivíduo a acreditar que as razões e o tempo dele são os mais importantes em todo o universo de razões e de tempo das outras pessoas.

Agora voltemos aonde deixamos nosso motorista parado em fila dupla. Uma criança tenta atravessar a rua para se juntar aos amigos do outro lado. Ao desviar do sujeito parado em fila dupla e passar para a terceira faixa em uma velocidade usual para a via, um segundo motorista atropela a criança. Mas, parado em fila dupla, nosso motorista acredita que não tem nada a ver com isso. Aliás, ele pensa: "ainda bem que o meu filho eu pego bem na porta do colégio".

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Contaminando a Geração Seguinte

Quando se é um pústula, sempre se dá um jeito de mostrar. No entanto, ser pústula já é uma coisa ruim; ensinar um jovem a o ser, é bem pior. Porque aí, o sujeito está passando o seu mal, o seu vício, e a sua mancha a uma outra geração.

Em certo dia do ano de 2015, uma mocinha de cerca de 18 anos estava em uma fila para pagar o lanche e dali deveria passar para outra fila para então pegar o seu lanche. Até aí tudo bem. Havia um senhor, de aproximadamente 55 anos já na fila de pegar o lanche e, chegada a sua vez, ele gentilmente cedeu o lugar para o que estava logo atrás dele. Certamente ele deveria estar esperando a próxima fornada para pegar seu lanche.

Agora, deixemos esse simpático senhor na fila do lanche e voltemos até a mocinha na outra fila. Ela acaba de pagar pelo seu lanche e receber sua ficha. Ela olha para uma pessoa na fila de pegar o lanche e segue na direção dessa pessoa. Contrariamente às expectativas de  todos ela toma o lado errado da fila, isto é, em vez de dirigir-se para o fim da fila, com sete pessoas, ela vai em direção ao primeiro indivíduo da fila.

Sim! Ele mesmo! O simpático senhor com seus 55 anos estava ensinando a mocinha a dar um golpe. Sim, isto é um golpe. E quem estaria sendo lesado neste golpe? Qual direito estaria sendo ferido?

As pessoas na fila estavam sendo as vítimas do golpe e o direito ferido é o direito natural da ordem de chegada. Mas por que ninguém na fila fez um escândalo? Por que ninguém bateu nas panelas e gritou "fora Dilma!"? Por que não se levantou cartazes ferozes contra a corrupção?

Porque aquelas pessoas acharam que não tinha nada de mais naquilo. Afinal, era somente um pai ajudando a filha a não se atrasar para, talvez, a segunda aula. Porque aquelas pessoas agiram da mesma forma na semana passada e se tivessem em dupla naquele momento, fariam o mesmo. Fariam para ganhar tempo, é claro. Mas não se pode esquecer que, sempre que alguém ganha, outro alguém perde. Nesse caso, o ganho de tempo dela representou a perda de tempo de outros, independentemente da situação em que estivessem: atrasados, apertados para ir ao banheiro, com dores nas pernas, etc.

Mas ninguém pensaria nisso, não é mesmo? Claro, ninguém que não tivesse um pingo de empatia jamais se colocaria no lugar do outro.

A mocinha e seu querido e corrupto pai, foram sentar em algum lugar do salão e se regozijar por serem uma dupla tão inteligente e astuta. Quanto a ele, assim como muitos, são casos perdidos, porque se quer se dão conta da maneira como se comportam, e agem no automático, da forma mais natural possível. Mas aquela moça, muito provavelmente poderia se tornar uma pessoa honesta, desde que ela tivesse pelo menos a chance de conhecer os dois lados da moeda, isto é, desde que lhe fosse apresentado o que é certo e o que é errado. Claro, conhecer os dois lados não garante que o jovem escolha fazer o que é certo, mas isso não nos dá o direito de não lhe dar escolha.

Ninguém tem o direito de contaminar a próxima geração com suas manias de dar um jeitinho, de bancar o esperto, de se esquivar habilmente das obrigações e de desconsiderar todas as regras que puder, desde que nunca seja punido por isso.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O Ventre Livre - a alma cativa

Em 28 de setembro de 1871 foi sancionada pela princesa Isabel a Lei do Ventre Live (lei número 2.040 de 28/09/1871). Essa lei tornava livre os filhos e filhas de escravas nascidos no Império desde a data da lei.

A lei estabelecia, entre outras coisas, que o senhor de escrava que desce à luz um filho estaria obrigado a cuidar da criança até os 8 anos de idade. A partir daí, duas situações poderiam ocorrer ao senhor da escrava: receber uma indenização do Estado pelo menor, ou utilizar-se de seus serviços até a idade de 21 anos. No caso de optar pela indenização, que seria paga em títulos do governo a uma taxa de 6% anuais, o senhor da escrava teria de declarar essa escolha em um prazo de 30 dias a contar do dia em que o menor completasse 8 anos.

O artigo primeiro da lei fala apenas em filho e não em filha, no entanto, em seu parágrafo terceiro, afirma que ficam também obrigados os "senhores [a] criar e tratar os filhos que as filhas de suas escravas possam ter quando aquellas estiverem prestando serviços". Subtendendo-se daí que a lei incluía filhos e filhas de escravas nascidos a partir da data da lei.

Para o menor havia a possibilidade remir-se da prestação de serviços até os 21 anos de idade, desde que arcasse com a "devida" indenização ao senhor de sua mãe. Tais serviços também poderiam ser cessados caso o senhor da escrava infligisse ao menor "castigos excessivos". No entanto a lei não regulava o que se deveria entender como castigo excessivo, nem a forma de apurar possíveis alegações. Também não há na lei referência a outra lei que cuide desses casos.

Naqueles anos, muitos achavam normal ter escravos. Para alguns poucos, a escravidão era uma aberração. 

Hoje em dia, muitos acham normal a condição miserável de boa parte da população, atribuindo à vontade divina ou às próprias escolhas do indivíduo seu estado de miséria. Há ainda os que acham que é o acaso que faz com que as pessoas cheguem ao estado de miséria ou que permaneçam nele. O fato de uma pessoa morrer de fome, ou por falta do devido atendimento médico é algo absorvido e digerido facilmente para muita gente. O fato de negar-se a uma criança as condições de desenvolvimento pleno é encarada como natural para certos segmentos da sociedade.

Esse segmento da sociedade, o que acredita que o "cada um por si e Deus contra todos" é a fórmula mágica para conduzir a vida em sociedade, perdeu, ou jamais teve, uma característica humana fundamental: a empatia.


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Inteligência e Nível de Instrução

Muitas pessoas, mas principalmente as mais ingênuas, costumam confundir nível de instrução com inteligência. E, em um país credencialista como o Brasil isso ganha eco até mesmo no meio de pessoas as quais aparentemente não se pode considerar como estúpidas. No entanto, há um sem número de exemplos que mostram que o nível de instrução que um indivíduo recebe não é nem de longe algo que se possa considerar proporcional a sua inteligência.

Exemplos de pessoas com pouca ou nenhuma instrução que mostram uma inteligência fenomenal são facilmente encontrados tanto no Brasil quanto no exterior. No entanto, o contrário, isto é, pessoas com alto nível instrucional e com uma inteligência duvidosa são casos mais discretos, porque, quem percebe isso, em geral fica calado. Não há porque expor o outro ao ridículo de forma gratuita.

No meio dessas pessoas, há também aquelas que se passam por estúpidas, simplesmente para enrolar, tapear, ludibriar outras pessoas.

Isso me ocorreu ao assistir a um pronunciamento de certo parlamentar que comparou a crise do Brasil no ano de 2015 a uma hérnia de disco. Segundo ele, a hérnia de disco seria o PT (partido dos trabalhadores) e a presidente Dilma Rousseff. O nobre legislador afirmou que, ao extirpar o PT e Dilma da Presidência da República, no dia seguinte, o país estaria respirando aliviado, abundariam empregos, haveria uma deflação pelo aumento imediato da produção, entre outras maravilhas.

Tendo em conta o alto nível de instrução do mandatário, pela extrema pobreza de argumentos e total ingenuidade de raciocínio, somente se pode concluir que o mesmo tem a intenção de zombar dos que defendem o impeachment da presidente ou o intuito de fazer as pessoas mais ingênuas e crédulas a aderirem a esse estúpido juízo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Extremo é a Beira do Precipício

Discordo diametralmente de toda e qualquer generalização.

Como disse Maquiavel, "virtù" sem "fortuna" ou "fortuna" sem "virtù" para nada servem.



Como um dos mais fantásticos observadores da condição humana, Maquiavel descreveu muito bem o comportamento das pessoas de forma individual e até coletiva.

Mas não se enganem, não coloquem uma peneira para tapar o sol. Vivemos em sociedade e temos sim os efeitos inegáveis da interdependência.

As nossas escolhas e ações afetam os demais indivíduos na sociedade. E, de forma análoga, somos o tempo inteiro afetados por escolhas e ações alheias.

Não fujamos à nossa responsabilidade dizendo que é cada um por si e aí tudo certo. Isso é tão utópico e leviano como dizer que o indivíduo é simples e puramente produto da sociedade em que ele vive, e que portanto ele não tem responsabilidade nenhuma sobre suas decisões.

Extremos sempre foram e sempre serão perigosos.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Paralelismo

Há dois tipos de paralelismo, o sintático e o semântico. Pode ser que uma construção apresente quebra de paralelismo semântico, mesmo que esteja perfeita do ponto de vista sintático.

Esse assunto me veio a lembrança devido a uma solução de questão de economia em uma prova para economistas. No meio da solução estava escrito o seguinte:

[I] "O equilíbrio de mercado é o ponto de preços e quantidades onde não existe excesso de oferta ou demanda".

O que foi dito nessa construção foi que não existe demanda, isto é, a demanda é zero no estado de equilíbrio de mercado, o que não é verdade para o contexto em que o trecho está inserido. O correto seria dizer:

[II] "O equilíbrio de mercado é o ponto de preços e quantidades onde não existe excesso de oferta ou de demanda".

Nessa segunda construção está sendo dito que não existe excesso de oferta nem excesso de demanda. Obviamente, o autor do texto sabe o que ele quis dizer e, para pessoas minimamente instruídas em economia, a mensagem é interpretada do mesmo modo em [I] e em [II]. Por outro lado, alguém que esteja se iniciando na disciplina de economia poderia ficar em dúvida ou assimilar a afirmação equivocadamente.

Em uma prova discursiva, a afirmação feita em [I] deveria ser considerada como errada do ponto de vista da disciplina economia, por isso é bom ter atenção a esses detalhes da língua portuguesa.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Atenuantes e Excludentes

Difamar alguém é uma atitude corriqueira entre as pessoas de baixo valor moral. Essas pessoas não se furtam de abraçar o sujeito em um dia e no mesmo dia dizer dele coisas horríveis. A difamação é sempre maldosa, pois atribui um fato inverídico a uma pessoa e esse fato faz com que os ouvintes tenham menor apreço por ela.  A difamação não chega a ser um crime, mas é o seu autor passível de processo judicial para reparação de danos morais e, possivelmente, materiais.

Muitas vezes o difamador age por despeito, inveja, ou uma necessidade de ser querido pelo seu ouvinte, como que a buscar apoio  para suas opiniões descaradas. Não é raro que o difamador seja alguém hipócrita, que na frente do difamado o trate com toda a cordialidade, mas na sua ausência, use as palavras mais vis para qualificar-lhe.

É comum que o difamador, mal acostumado com a falta de punição para o seu ato desprezível, passe para o campo da calúnia. Caluniar alguém é imputar-lhe falsamente a autoria de ação criminosa. Por exemplo, dizer que alguém roubou tal coisa é uma calúnia, se de fato o indivíduo não roubou. Mas há situações mais graves, muito mais graves.

Em um programa policial de rádio foi narrado um caso, já nos anos dois mil, de uma garota que, inconformada com o fim de um namoro, arquitetou uma vingança perigosa. Ela pediu que seu ex-namorado realizasse uma fantasia: fingir que estava sendo violentada. O local seria a casa dessa garota. O rapaz aceitou a proposta. Durante o ato, vizinhos, ao ouvir os gritos da jovem, chamaram a polícia. Quando os policiais chegaram ao local, a garota começou a chorar dizendo que estava de fato sendo violentada. O rapaz foi preso e, pouco tempo antes de ele ser transferido para o presídio, a garota foi a delegacia com sua mãe retirar a queixa e informar o que de fato havia acontecido, isto é, tudo havia sido planejado por ela para que ele fosse preso. Essa seria sua vingança.

A difamação é bem difícil de ter devidamente reparado de seu mal, porque, como diz certo provérbio, as palavras são como flechas que, uma vez atiradas, não voltam ao arco antes de ferir com sua ponta. Mas a atribuição de conduta criminosa a um indivíduo é algo muito mais danoso. E por isso é que penso que, dada uma calúnia, o caluniador cria, talvez não uma excludente, mas uma atenuante para uma eventual agressão por parte do caluniado.

Assim, antes de difamar ou caluniar alguém, é bom pensar melhor: o caluniado ou o difamado pode querer revide e ainda sair como o injustiçado.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Atavismo Histórico

Estava lendo sobre Fernando Collor de Melo e deparei-me com uma página do Wikipedia sobre seu avô, Lindolfo Collor, que foi ministro no primeiro governo de Getúlio Vargas.

Um fato narrado nessa página me chamou a atenção: a briga de Lindolfo Collor com Gilberto Amado, por conta de críticas do segundo a dada obra literária do primeiro. Segundo o artigo na Wikipedia e Enéas Athanázio (http://www.riototal.com.br/coojornal/eneasathanazio022.htm), houve até tiros nesse episódio.

Bom e daí? É que estava pensando que esses dois pertenciam a elite intelectual da época.

Não lembrava de ter lido nada sobre a atuação literária de Lindolfo Collor até hoje. Já havia lido alguma coisa sobre ele de passagem em livros como A Era Vargas, de Bastos e Fonseca. Pesquisando um pouco, encontrei esse artigo: http://www.ufrgs.br/ppghist/anos90/15/15art3.pdf. Ele fala da trajetória de Collor (avô) desde a juventude até o ápice de sua carreira política.

Isso tudo me lembra que outros personagens atuais da política brasileira, como Fernando Henrique, têm raízes profundas desde muitas décadas.

Ao que parece, as famílias que ocupam o primeiro plano da cena política do país são as mesmas desde, pelo menos, o final do Império.

sábado, 11 de julho de 2015

Caia na Real

Por Marcos R Pinnto*


Era uma segunda-feira, por volta das dez da manhã. A rodovia estava movimentada, com muitos carros de passeio, caminhões e motocicletas. Tempo limpo e asfalto novo. Cenário perfeito para mais um grande acidente.

Segundo estatísticas da polícia rodoviária federal, a maioria dos acidentes ocorrem justamente durante o dia e com o tempo limpo. Não surpreende, pois é justamente nessas condições que muitos gostam de arriscar manobras difíceis e exceder a velocidade máxima das estradas.

Tudo o que for possível infringir, está valendo para muitos condutores. Afinal, o tempo desses é mais importante do que o de todos os outros condutores na rodovia e, é evidente que a missão dele naquele dia precisa ter prioridade seja lá como for. Então, vale ultrapassar pelo acostamento, forçar a ultrapassagem em fila, colar na traseira do carro a frente, desconsiderar completamente a faixa contínua proibitiva de ultrapassagem.

Riscos só existem para os outros, pensam esses condutores. Naquela segunda-feira, um caminhão de tamanho médio tentou fazer a ultrapassagem de quatro carros em fila. Não daria tempo. Assim, ele pôs o carro para cima do terceiro carro da frente para a trás e por sorte não fez os outros condutores se envolverem num grave acidente.

Eles agem como se estivessem em um filme. Nessa fantasia, veem-se como protagonistas, e como tal, sempre escaparão no final. Nessa fantasia, o carro deles pode até capotar, mas eles sairão das ferragens ilesos. Nessa fantasia, pode até começar um tiroteio, mas as balas ricochetearão em todos os lugares e jamais lhes acertarão. Nessa fantasia, o que é pior, tirando eles, seus amigos próximos e familiares, o resto da sociedade é apenas figurante, então, que se explodam, que se arrebentem, que morram! Não fará diferença na fantasia deles porque são apenas figurantes e foi para isso que figurante foi inventado: para não significar nada para os outros.

Talvez um dia essas pessoas amadureçam e entendam que as outras pessoas são pessoas de verdade, não são figurantes de um filme. Elas se machucam e sofrem de verdade.

Talvez um dia essas pessoas caiam na real.

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* Doutor em Engenharia Civil, especialista em EAD.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O Prego

Era um prego, não se podia negar. 

Um prego, uma vez enfiado na parede, haja esforço para tirar-lhe de lá! 

Mudar de posição? 

Para quê? 

Prego não muda de posição assim do nada. Não... 

Por isso é que eu admiro certo cara que se dizia ser uma metamorfose ambulante. 

Porque, opinião formada é até bonito, mas ser prego, ninguém merece.

A Câmara, os Aposentados e as Eleições do Ano que Vem

Ninguém pode negar que a principal (e talvez a única) preocupação de muitos (será que digo como o Cid Gomes disse?) políticos brasileiros é a eleição. A eleição é o que governa as ações de uma parcela considerável de políticos, e não estou falando somente daqueles políticos que se candidatam a cargos eletivos. Estou falando também dos políticos que nem se candidatam e nem ocupam cargos eletivos.

Escolas de qualidade, saúde, transporte, estradas, assistência social, crescimento econômico, isso tudo é alegoria para muitos. O foco é garantir a eleição do ano que vem. E, nada mais conveniente do que aprovar uma medida populista, com a qual os trabalhadores em geral simpatizarão muito. Aí os possíveis candidatos e seus apadrinhados poderão esbravejar ano que vem: "nós votamos a favor a favor da emenda que vincula o reajuste do mínimo às aposentadorias. Infelizmente, esse governo que está aí para sufocar o trabalhador e a classe média vetou nossa emenda..."

Claro, isso se o Senado da República não chamar a responsabilidade para si, fazendo uso da sobriedade política. Mas, deve haver senadores também preocupados com as eleições vindouras. Então, provavelmente caberá ao governo a atitude antipática de vetar uma emenda tão caridosa com o povo. E para o Senado tem o agravante de serem bem menos em número do que a câmara de deputados.

Se a vinculação da emenda da MP 672 estivesse valendo para este ano, o impacto seria de quase R$ 5 bi, segundo Ministro da Previdência, Carlos Gabas. Claro que, se pensarmos no desvio de R$ 21 bi da Petrobrás, essa conta do ministro vai soar como uma afronta, pelo menos para o cidadão médio brasileiro. Porque o que esse cidadão vai pensar é o seguinte: a Previdência diz que não tem dinheiro para arcar com essa despesa adicional de menos de cinco bilhões, mas o nosso dinheiro corre desenfreado no rio de corrupção".