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sábado, 11 de julho de 2015

Caia na Real

Por Marcos R Pinnto*


Era uma segunda-feira, por volta das dez da manhã. A rodovia estava movimentada, com muitos carros de passeio, caminhões e motocicletas. Tempo limpo e asfalto novo. Cenário perfeito para mais um grande acidente.

Segundo estatísticas da polícia rodoviária federal, a maioria dos acidentes ocorrem justamente durante o dia e com o tempo limpo. Não surpreende, pois é justamente nessas condições que muitos gostam de arriscar manobras difíceis e exceder a velocidade máxima das estradas.

Tudo o que for possível infringir, está valendo para muitos condutores. Afinal, o tempo desses é mais importante do que o de todos os outros condutores na rodovia e, é evidente que a missão dele naquele dia precisa ter prioridade seja lá como for. Então, vale ultrapassar pelo acostamento, forçar a ultrapassagem em fila, colar na traseira do carro a frente, desconsiderar completamente a faixa contínua proibitiva de ultrapassagem.

Riscos só existem para os outros, pensam esses condutores. Naquela segunda-feira, um caminhão de tamanho médio tentou fazer a ultrapassagem de quatro carros em fila. Não daria tempo. Assim, ele pôs o carro para cima do terceiro carro da frente para a trás e por sorte não fez os outros condutores se envolverem num grave acidente.

Eles agem como se estivessem em um filme. Nessa fantasia, veem-se como protagonistas, e como tal, sempre escaparão no final. Nessa fantasia, o carro deles pode até capotar, mas eles sairão das ferragens ilesos. Nessa fantasia, pode até começar um tiroteio, mas as balas ricochetearão em todos os lugares e jamais lhes acertarão. Nessa fantasia, o que é pior, tirando eles, seus amigos próximos e familiares, o resto da sociedade é apenas figurante, então, que se explodam, que se arrebentem, que morram! Não fará diferença na fantasia deles porque são apenas figurantes e foi para isso que figurante foi inventado: para não significar nada para os outros.

Talvez um dia essas pessoas amadureçam e entendam que as outras pessoas são pessoas de verdade, não são figurantes de um filme. Elas se machucam e sofrem de verdade.

Talvez um dia essas pessoas caiam na real.

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* Doutor em Engenharia Civil, especialista em EAD.

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