Pesquisar este blog

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Paralelismo

Há dois tipos de paralelismo, o sintático e o semântico. Pode ser que uma construção apresente quebra de paralelismo semântico, mesmo que esteja perfeita do ponto de vista sintático.

Esse assunto me veio a lembrança devido a uma solução de questão de economia em uma prova para economistas. No meio da solução estava escrito o seguinte:

[I] "O equilíbrio de mercado é o ponto de preços e quantidades onde não existe excesso de oferta ou demanda".

O que foi dito nessa construção foi que não existe demanda, isto é, a demanda é zero no estado de equilíbrio de mercado, o que não é verdade para o contexto em que o trecho está inserido. O correto seria dizer:

[II] "O equilíbrio de mercado é o ponto de preços e quantidades onde não existe excesso de oferta ou de demanda".

Nessa segunda construção está sendo dito que não existe excesso de oferta nem excesso de demanda. Obviamente, o autor do texto sabe o que ele quis dizer e, para pessoas minimamente instruídas em economia, a mensagem é interpretada do mesmo modo em [I] e em [II]. Por outro lado, alguém que esteja se iniciando na disciplina de economia poderia ficar em dúvida ou assimilar a afirmação equivocadamente.

Em uma prova discursiva, a afirmação feita em [I] deveria ser considerada como errada do ponto de vista da disciplina economia, por isso é bom ter atenção a esses detalhes da língua portuguesa.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Atenuantes e Excludentes

Difamar alguém é uma atitude corriqueira entre as pessoas de baixo valor moral. Essas pessoas não se furtam de abraçar o sujeito em um dia e no mesmo dia dizer dele coisas horríveis. A difamação é sempre maldosa, pois atribui um fato inverídico a uma pessoa e esse fato faz com que os ouvintes tenham menor apreço por ela.  A difamação não chega a ser um crime, mas é o seu autor passível de processo judicial para reparação de danos morais e, possivelmente, materiais.

Muitas vezes o difamador age por despeito, inveja, ou uma necessidade de ser querido pelo seu ouvinte, como que a buscar apoio  para suas opiniões descaradas. Não é raro que o difamador seja alguém hipócrita, que na frente do difamado o trate com toda a cordialidade, mas na sua ausência, use as palavras mais vis para qualificar-lhe.

É comum que o difamador, mal acostumado com a falta de punição para o seu ato desprezível, passe para o campo da calúnia. Caluniar alguém é imputar-lhe falsamente a autoria de ação criminosa. Por exemplo, dizer que alguém roubou tal coisa é uma calúnia, se de fato o indivíduo não roubou. Mas há situações mais graves, muito mais graves.

Em um programa policial de rádio foi narrado um caso, já nos anos dois mil, de uma garota que, inconformada com o fim de um namoro, arquitetou uma vingança perigosa. Ela pediu que seu ex-namorado realizasse uma fantasia: fingir que estava sendo violentada. O local seria a casa dessa garota. O rapaz aceitou a proposta. Durante o ato, vizinhos, ao ouvir os gritos da jovem, chamaram a polícia. Quando os policiais chegaram ao local, a garota começou a chorar dizendo que estava de fato sendo violentada. O rapaz foi preso e, pouco tempo antes de ele ser transferido para o presídio, a garota foi a delegacia com sua mãe retirar a queixa e informar o que de fato havia acontecido, isto é, tudo havia sido planejado por ela para que ele fosse preso. Essa seria sua vingança.

A difamação é bem difícil de ter devidamente reparado de seu mal, porque, como diz certo provérbio, as palavras são como flechas que, uma vez atiradas, não voltam ao arco antes de ferir com sua ponta. Mas a atribuição de conduta criminosa a um indivíduo é algo muito mais danoso. E por isso é que penso que, dada uma calúnia, o caluniador cria, talvez não uma excludente, mas uma atenuante para uma eventual agressão por parte do caluniado.

Assim, antes de difamar ou caluniar alguém, é bom pensar melhor: o caluniado ou o difamado pode querer revide e ainda sair como o injustiçado.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Atavismo Histórico

Estava lendo sobre Fernando Collor de Melo e deparei-me com uma página do Wikipedia sobre seu avô, Lindolfo Collor, que foi ministro no primeiro governo de Getúlio Vargas.

Um fato narrado nessa página me chamou a atenção: a briga de Lindolfo Collor com Gilberto Amado, por conta de críticas do segundo a dada obra literária do primeiro. Segundo o artigo na Wikipedia e Enéas Athanázio (http://www.riototal.com.br/coojornal/eneasathanazio022.htm), houve até tiros nesse episódio.

Bom e daí? É que estava pensando que esses dois pertenciam a elite intelectual da época.

Não lembrava de ter lido nada sobre a atuação literária de Lindolfo Collor até hoje. Já havia lido alguma coisa sobre ele de passagem em livros como A Era Vargas, de Bastos e Fonseca. Pesquisando um pouco, encontrei esse artigo: http://www.ufrgs.br/ppghist/anos90/15/15art3.pdf. Ele fala da trajetória de Collor (avô) desde a juventude até o ápice de sua carreira política.

Isso tudo me lembra que outros personagens atuais da política brasileira, como Fernando Henrique, têm raízes profundas desde muitas décadas.

Ao que parece, as famílias que ocupam o primeiro plano da cena política do país são as mesmas desde, pelo menos, o final do Império.

sábado, 11 de julho de 2015

Caia na Real

Por Marcos R Pinnto*


Era uma segunda-feira, por volta das dez da manhã. A rodovia estava movimentada, com muitos carros de passeio, caminhões e motocicletas. Tempo limpo e asfalto novo. Cenário perfeito para mais um grande acidente.

Segundo estatísticas da polícia rodoviária federal, a maioria dos acidentes ocorrem justamente durante o dia e com o tempo limpo. Não surpreende, pois é justamente nessas condições que muitos gostam de arriscar manobras difíceis e exceder a velocidade máxima das estradas.

Tudo o que for possível infringir, está valendo para muitos condutores. Afinal, o tempo desses é mais importante do que o de todos os outros condutores na rodovia e, é evidente que a missão dele naquele dia precisa ter prioridade seja lá como for. Então, vale ultrapassar pelo acostamento, forçar a ultrapassagem em fila, colar na traseira do carro a frente, desconsiderar completamente a faixa contínua proibitiva de ultrapassagem.

Riscos só existem para os outros, pensam esses condutores. Naquela segunda-feira, um caminhão de tamanho médio tentou fazer a ultrapassagem de quatro carros em fila. Não daria tempo. Assim, ele pôs o carro para cima do terceiro carro da frente para a trás e por sorte não fez os outros condutores se envolverem num grave acidente.

Eles agem como se estivessem em um filme. Nessa fantasia, veem-se como protagonistas, e como tal, sempre escaparão no final. Nessa fantasia, o carro deles pode até capotar, mas eles sairão das ferragens ilesos. Nessa fantasia, pode até começar um tiroteio, mas as balas ricochetearão em todos os lugares e jamais lhes acertarão. Nessa fantasia, o que é pior, tirando eles, seus amigos próximos e familiares, o resto da sociedade é apenas figurante, então, que se explodam, que se arrebentem, que morram! Não fará diferença na fantasia deles porque são apenas figurantes e foi para isso que figurante foi inventado: para não significar nada para os outros.

Talvez um dia essas pessoas amadureçam e entendam que as outras pessoas são pessoas de verdade, não são figurantes de um filme. Elas se machucam e sofrem de verdade.

Talvez um dia essas pessoas caiam na real.

_________________________________________________

* Doutor em Engenharia Civil, especialista em EAD.