Faz alguns anos um professor meu contou uma história que para mim foi marcante e me fez pensar sobre o poder do marketing em vários setores da nossa vida.
Disse ele que foi pedir aumento no colégio em que lecionava e o diálogo foi mais ou menos o seguinte:
(Professor) - Já faz alguns anos que leciono aqui e o senhor já conhece a qualidade do meu trabalho, portanto, vim pedir um aumento, que considero justo, como falei pelo tempo e pela qualidade de minhas aulas.
(Diretor) - Ah, é aumento professor? A gente não tá dando aumento pra ninguém não professor, nem pra mim, pro senhor ter uma ideia.
(Professor) - Olha, eu vim pedir o aumento porque eu gosto do colégio e queria continuar aqui, mas recebi proposta de outro colégio que financeiramente é mais interessante. Mas não queria sair antes de dar a oportunidade de o senhor cobrir a oferta do outro colégio.
(Diretor) - Certo professor. Eu agradeço a sua atenção, mas infelizmente não temos como dar aumento pra ninguém. Nosso colégio reconhece a sua qualidade, mas não vou nem perguntar quanto lhe ofereceram. Pelo jeito vamos precisar contratar outro professor.
(Professor) - O senhor sabe como professor de física é difícil de encontrar, não sabe?
(Diretor) - Sei professor, mas se eu colocar um anúncio hoje, amanhã chove de currículo aqui na porta.
(Professor) - É, mas tem que ver a qualidade...
(Diretor) - Ah, professor, qualidade a gente faz aqui.
"Qualidade a gente faz aqui". Isso deixou bastante claro o que um dos colégios de mensalidade mais cara da cidade faz: usa um marketing agressivo para vender a imagem de qualidade, ignorando a discrepância entre o que o marketing diz e a realidade.
Não é de admirar que muitos alunos saiam desse dito colégio (aliás, de muitos outros também) com dificuldade de leitura, uma escrita sofrível e conhecimentos de ciências exatas quase nulos. É a qualidade bancada pelo marketing.
É realmente muito bonito selecionar alguns gatos pingados para mostrar para pais ansiosos pelo sucesso dos filhos e convencer-lhes a transferir boa parte de seu patrimônio para um colégio que promete fazer do filho um vencedor completo.
Mas quando esse aluno falha nos objetivos almejados, a culpa é exclusivamente dele, não é mesmo? Afinal, alguém com formação em uma área específica e com pós-graduação em algo mais específico ainda convence a todos que "aquele aluno não quer nada", o colégio é excelente, os professores são excelentes, mas "aquele pobre diabo que não passou para ser astronauta da NASA é que não quer nada na vida".
E o dinheiro? Esse está sendo muito bem empregado em viagens internacionais, carros de luxo, mansões, festas com estrelas, etc. Não se preocupe! O dinheiro que você entregou naquele colégio está sendo muito bem empregado.
E por falar em empregado, diga-se de passagem que naquele colégio de que o professor estava falando, uma zeladora trabalhava dez horas por dia por um salário mínimo e nem mesmo lhe concediam uma refeição digna (isso fui eu que apurei na época).
Quando na década de 1960 foi iniciado o sucateamento das escolas públicas e incentivada a proliferação das escolas privadas, tinha-se um alvo em mente: o mercado de educação. Quem é que vai deixar os filhos sem escola? Somente aqueles que realmente não tiverem a mínima condição de colocar-lhes na escola. Então, o Estado brasileiro cria um caos na educação pública e abre um enorme e lucrativo leque para a iniciativa privada.
Se essas escolas têm realmente qualidade ou não, para o Estado não importa, porque nem mesmo o papel de fiscal que lhe cabe é desempenhado como deveria.
Boas escolas privadas certamente existem, mas, para tantas outras é mais fácil fraudar exames do que realizar um processo de ensino-aprendizagem coerente. É mais barato pagar uma boa equipe de marketing do que pagar profissionais especializados em educação para aprimorar suas escolas. E ainda, é mais útil e lucrativo em todos os sentidos investir no marketing da escola do que nas condições de trabalho, de ensino, e de aprendizagem.
Precisamos aprender que para ser boa escola não precisa aparecer em outdoors, TV e rádio. O que podemos fazer então é desconsiderar as campanhas de marketing e gastar um pouco mais de tempo vasculhando e investigando para encontrar boas escolas e assim tomar boas decisões que vão influenciar o nosso futuro e o futuro dos nossos jovens.
Disse ele que foi pedir aumento no colégio em que lecionava e o diálogo foi mais ou menos o seguinte:
(Professor) - Já faz alguns anos que leciono aqui e o senhor já conhece a qualidade do meu trabalho, portanto, vim pedir um aumento, que considero justo, como falei pelo tempo e pela qualidade de minhas aulas.
(Diretor) - Ah, é aumento professor? A gente não tá dando aumento pra ninguém não professor, nem pra mim, pro senhor ter uma ideia.
(Professor) - Olha, eu vim pedir o aumento porque eu gosto do colégio e queria continuar aqui, mas recebi proposta de outro colégio que financeiramente é mais interessante. Mas não queria sair antes de dar a oportunidade de o senhor cobrir a oferta do outro colégio.
(Diretor) - Certo professor. Eu agradeço a sua atenção, mas infelizmente não temos como dar aumento pra ninguém. Nosso colégio reconhece a sua qualidade, mas não vou nem perguntar quanto lhe ofereceram. Pelo jeito vamos precisar contratar outro professor.
(Professor) - O senhor sabe como professor de física é difícil de encontrar, não sabe?
(Diretor) - Sei professor, mas se eu colocar um anúncio hoje, amanhã chove de currículo aqui na porta.
(Professor) - É, mas tem que ver a qualidade...
(Diretor) - Ah, professor, qualidade a gente faz aqui.
"Qualidade a gente faz aqui". Isso deixou bastante claro o que um dos colégios de mensalidade mais cara da cidade faz: usa um marketing agressivo para vender a imagem de qualidade, ignorando a discrepância entre o que o marketing diz e a realidade.
Não é de admirar que muitos alunos saiam desse dito colégio (aliás, de muitos outros também) com dificuldade de leitura, uma escrita sofrível e conhecimentos de ciências exatas quase nulos. É a qualidade bancada pelo marketing.
É realmente muito bonito selecionar alguns gatos pingados para mostrar para pais ansiosos pelo sucesso dos filhos e convencer-lhes a transferir boa parte de seu patrimônio para um colégio que promete fazer do filho um vencedor completo.
Mas quando esse aluno falha nos objetivos almejados, a culpa é exclusivamente dele, não é mesmo? Afinal, alguém com formação em uma área específica e com pós-graduação em algo mais específico ainda convence a todos que "aquele aluno não quer nada", o colégio é excelente, os professores são excelentes, mas "aquele pobre diabo que não passou para ser astronauta da NASA é que não quer nada na vida".
E o dinheiro? Esse está sendo muito bem empregado em viagens internacionais, carros de luxo, mansões, festas com estrelas, etc. Não se preocupe! O dinheiro que você entregou naquele colégio está sendo muito bem empregado.
E por falar em empregado, diga-se de passagem que naquele colégio de que o professor estava falando, uma zeladora trabalhava dez horas por dia por um salário mínimo e nem mesmo lhe concediam uma refeição digna (isso fui eu que apurei na época).
Quando na década de 1960 foi iniciado o sucateamento das escolas públicas e incentivada a proliferação das escolas privadas, tinha-se um alvo em mente: o mercado de educação. Quem é que vai deixar os filhos sem escola? Somente aqueles que realmente não tiverem a mínima condição de colocar-lhes na escola. Então, o Estado brasileiro cria um caos na educação pública e abre um enorme e lucrativo leque para a iniciativa privada.
Se essas escolas têm realmente qualidade ou não, para o Estado não importa, porque nem mesmo o papel de fiscal que lhe cabe é desempenhado como deveria.
Boas escolas privadas certamente existem, mas, para tantas outras é mais fácil fraudar exames do que realizar um processo de ensino-aprendizagem coerente. É mais barato pagar uma boa equipe de marketing do que pagar profissionais especializados em educação para aprimorar suas escolas. E ainda, é mais útil e lucrativo em todos os sentidos investir no marketing da escola do que nas condições de trabalho, de ensino, e de aprendizagem.
Precisamos aprender que para ser boa escola não precisa aparecer em outdoors, TV e rádio. O que podemos fazer então é desconsiderar as campanhas de marketing e gastar um pouco mais de tempo vasculhando e investigando para encontrar boas escolas e assim tomar boas decisões que vão influenciar o nosso futuro e o futuro dos nossos jovens.
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