Esse não é um texto filosófico. Não sou filósofo e não tenho a pretensão de ser. Mas, trata-se de um texto simples oriundo de uma preocupação acerca da manipulação mal-intencionada de alguns conceitos históricos.
Mais cedo ou mais tarde, ficamos cientes de que nem tudo o que nos contam é verdade. Entre o fato e a versão, o que nos apresentam quase sempre é a versão, como diria Frei Beto (nunca li nenhum livro dele, admito, apenas vi um texto dele num jornal, de 2001, sobre a história oficial e o fato histórico).
Sobre essa manipulação mal-intencionada, vi várias vezes em telejornais os âncoras se referirem a baderneiros como anarquistas. Fui ler sobre anarquia e vi que nenhuma ligação há entre a anarquia, movimento político e social, com a baderna, a qual se quer associar os anarquistas.
Ao contrário da quebradeira promovida por baderneiros, os anarquistas buscam a colaboração entre os indivíduos, sem imposição da autoridade. Ou seja, arrebentar vitrines e agências bancárias não faz parte desse movimento. Infelizmente, quem tem mais alcance planta as mentiras que quer e quando muitos acreditam na mentira, a opinião é mais importante do que a verdade.
Atos de terrorismo também jamais podem ser associados aos verdadeiros anarquistas. Quem pratica esses atos está automaticamente agindo contra os princípios do anarquismo. Por que? Ora, se o objetivo é a colaboração espontânea entre os indivíduos sem imposição de autoridade, qualquer ato de violência estaria fadado a corromper essa ausência da imposição, pois a violência constrange e jamais liberta.
Já cheguei a escutar que a anarquia é a bagunça de um mundo sem regras. Ao contrário, os anarquistas adoram as regras e elas é que devem orientar a conduta do cidadão. Porém, fora da anarquia as leis são verticais, isto é, são impostas por uma oligarquia que subjuga a maioria. As leis na visão anarquista devem ser horizontais, construídas com a participação de todos e não apenas de alguns privilegiados que representam em número um percentual irrisório da população.
Um documentário em uma TV tentou explicar o que era anarquia. Infelizmente, os responsáveis pelo produto deram a sua pitada escandalosa de manipulação da informação. Ao final do programa um marionete representando os anarquistas do século XX grita: "sem Deus, sem pátria, sem patrão". O que não deixa de ser hilário, mas também preocupante quando se vê que a única intensão dos responsáveis era a de assustar as pessoas com as velhas histórias sobre "pessoas que não acreditam em Deus", "aqueles que querem o fim da nossa pátria", ou "eles querem tomar as fábricas de seus donos originais, daqueles cuja vontade de Deus foi ter aquela fábrica para nos dar empregos".
Assim, vão construindo uma imagem para o anarquismo, ao passo que vão desconstruindo conceitos originais, distorcendo fatos e inventando verdades. E fica uma pergunta final: para quem esse serviço é prestado?
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