Às vezes encontro pessoas que se mostram ansiosas para entrar em um curso superior. Essas pessoas se submetem a provas, preenchem longos formulários, compram material para as aulas e depois... depois esquecem-se completamente do sentido que deveria ter estudar.
O estudo, na sociedade capitalista, deixou de ser uma forma de aquisição de habilidades para desempenhar uma atividade para tornar-se uma mercadoria.
O problema é que, quando algo tem o único status de mercadoria, ela passa a ser medida por um preço e não pelo seu valor. O preço é que vai dizer quanto esforço o sujeito deve fazer para alcançar determinado objetivo. Quando se associa um preço a alguma atividade, põe-se de lado o seu valor, e passa-se a ponderar somente o aspecto custo-benefício.
E por que isso seria tão grave em educação, especialmente em educação superior? Porque as pessoas passam a fazer o menor esforço possível para obter o que querem. E se o que querem é apenas um diploma, o esforço será o suficiente para obter uma nota, seja por que meio for. Então, esquece-se de buscar o devido desenvolvimento para desempenhar com excelência uma atividade.
As consequências podem ser diversas. Mas, talvez a mais grave seja a total e irresponsável alienação do conhecimento. Muitas pessoas acreditam que os computadores irão resolver todos os seus problemas e que por isso não precisam compreender quase nada de quase tudo. Vêm matérias de forma superficial e acham que precisam entender apenas e somente uma única especialidade e passam a desprezar quaisquer outros conhecimentos, mal sabendo que o conhecimento múltiplo e diverso é justamente o fator de diferenciação entre profissionais excelentes e profissionais apenas diplomados.
A alienação do conhecimento a uma máquina, a outras pessoas, a projetos copiados da internet esperando apenas uma assinatura de um diplomado pode ser especialmente perigosa para o destinatário do bem ou serviço. Obras civis, máquinas diversas, veículos, drogas medicinais, equipamentos esportivos, alimentos, vestuário, tudo que se materializa em bens requer uma gama larga de conhecimentos que são conectados para atingir seu objetivo. Declarações de imposto de renda, consultas médicas, aplicação de injeções, aulas, segurança, qualquer serviço também precisa de uma série de conhecimentos que se juntam para gerar os devidos efeitos.
Um exemplo claro de que a educação é precificada se dá quando alguém escolhe algo que simpatiza, em vez de algo que ame como profissão, porque a primeira "dá mais dinheiro". Pior é quando o sujeito não tem a menor afinidade com o que está tentando se tornar. Porque além de um profissional não muito confiável, podemos ter alguém bastante infeliz.
Tratar a educação como uma mercadoria faz com que muitos a encarem tão somente como um mal necessário. O real valor que a educação deveria ter, o status de bem intangível ao qual não se pode precificar, a busca por uma excelência no desempenho de uma atividade, isso tudo foi posto em uma gaveta escura repleta de mofo e de traças.